Mídias sociais vêm se tornando cada vez menos sociais – e os usuários estão migrando para aplicativos de mensagens e bate-papos em grupo

Por Renata Turbiani

As redes sociais, em especial o Instagram, foram inundadas de conteúdos selecionados, superproduzidos e profissionais. Mas muitos usuários querem apenas passar o tempo curtindo – e postando – fotos cotidianas.

É o caso de Tati Bruening, criadora de conteúdo e fotógrafa. A jovem de 22 anos só quer compartilhar memes e publicar receitas, porém, toda vez que entra no Instagram, seu feed é inundado por imagens que ela não está interessada.

“É realmente bizarro para mim que todo mundo tenha pensado que o conteúdo precisa ser tão selecionado que você não pode mais mostrar o que está cozinhando para o jantar, porque isso não é legal o suficiente”, disse ela ao portal Business Insider.

Frustrada com isso, Bruening lançou, em 2022, a campanha “Make Instagram Instagram Again” (Faça Instagram Instagram de novo, em tradução para o português). O objetivo era frear as mudanças da plataforma que priorizavam conteúdos sugeridos por algoritmos em vez de uma linha do tempo cronológico de contas que a pessoa segue.

Sua iniciativa ganhou repercussão e contou até mesmo com a adesão de celebridades, como Kylie Jenner. E a rede social, que pertence à gigante Meta, acabou reduzindo o seu impulso agressivo de recomendações.

Muitos usuários cansados desse modus operandi passaram a optar por postagens privadas, mensagens diretas, bate-papos em grupo e comunidades fechadas, algo que, inclusive, foi admitido por Adam Mosseri, chefe da plataforma. A publicação regular de conteúdo ficou, em grande parte, confinada aos criadores e influenciadores.

O Business Insider analisa que as redes sociais tornaram-se menos sociais e mais mediáticas (“uma constelação de plataformas de entretenimento onde os utilizadores consomem conteúdos, mas raramente, ou nunca, criam os seus próprios”). Diante disso, especialistas e até usuários comuns afirmam que a rede social, como a conhecíamos, está morta.

Transformação ao longo do tempo

O Instagram começou como um espaço para as pessoas postarem fotos de suas vidas e acompanharem a rotina de seus amigos e parentes. Mas, à medida que cresceu, cada vez mais recursos foram adotados e uma transformação aconteceu.

Hoje, na análise do Business Insider, a plataforma se tornou um aplicativo de entretenimento aspiracional – um lugar onde as pessoas podem fazer compras, encontrar informações e se inspirar ou ficar impressionados.

Outro ponto observado é que o usuário comum posta cada vez menos por lá. “A cultura em geral tem impedido muitas pessoas de aparecerem porque não acham que sua vida é estética ou porque não acham que estão vendendo nada, então por que postariam nas redes sociais?

“Não tenho o estilo de vida que todos esses criadores têm, então não sei o que estaria compartilhando’ e, portanto, caio nesse ciclo de nunca compartilhar nada”, comentou Andrea Casanova, estrategista influenciadora.

Com essa mudança toda no Instagram, novos apps, como BeRealDispoPoparazziLocket e Lemon8, tentam se afirmar como o próximo grande sucesso, mas nenhum realmente se destacou. “As pessoas estão procurando por esse ‘aplicativo inovador’ e ainda não o conseguiram”, afirmou Casanova.

Por outro lado, modelos como o Discord têm ganhado relevância. Isso porque as gerações mais jovens estão de olho em espaços mais fechados e comunidades de nicho. Aplicações menores (por exemplo, a Geneva) também proporcionam novas formas de ligação com pessoas locais e com interesses semelhantes.

Lia Haberman, professora adjunta da UCLA Extension e conselheira do American Influencer Council, disse ao Business Insider que a Geração Alpha, a faixa etária de 13 anos ou menos, “não está adotando plataformas e costumes tradicionais de mídia social”.

E isso representa um problema para influenciadores e marcas, uma vez que espaços menores e mais diretos são mais difíceis de penetrar. “Como uma marca aparece nos DMs ou no servidor Discord de alguém se essa pessoa não for convidada?”, questionou Haberman.

Mas, em muitos aspectos, esse é o ponto: as pessoas ainda podem acessar o Instagram para conferir suas celebridades e influenciadores favoritos, mas os jovens não querem que marcas e profissionais de marketing se infiltrem nas comunidades fechadas onde passam a maior parte do tempo.

Hoje, os usuários estão mais seletivos e regressando à forma tradicional de interagir. Como observa o Business Insider, é difícil saber como essa mudança irá afetar o cenário online a longo prazo. Algumas evidências sugerem que criará uma experiência digital mais saudável, mas também há o risco de dividir ainda mais as pessoas em câmaras de eco com ideias semelhantes.

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